quarta-feira, 26 de março de 2014

Carrega, Lolita!

Olá. Esta é a Lolita. Na verdade, é a Twiggy Lolita Josefina, assim, por extenso. Noto nos olhares desconfiados e nos sobrolhos franzidos de alguns dos leitores a curva intrigada da interrogação "mas por que caralho é que este mariconço me vem falar de cachorras com nomes compridos e esquisitos em dia de Clássico no Dragão?!". Se acham isso estranho, haviam de me ver em situações ainda mais embaraçosas. Eu, que li manuais sobre paternidades canídeas, eu, que sempre acreditei que um cão é um bicho e só um bicho, eu, que agora dou por mim com lenga-lengas cantaroladas "Lolita cabrita saltita" e algumas ainda piores, enquanto finto a cachorra sobre o tapete vermelho, para raiva dela e meu deleite.

Lolita aguarda, concentradíssima, a marcação do pontapé de canto.

Muita gente me tem perguntado "olha, e já a fizeste sócia?" e eu não tenho respondido, mas aqui fica o esclarecimento: não, ainda não fiz. Partilhando-a, como partilho, com a Lady Verde, considerei que talvez fosse demasiado arriscado registá-la logo assim, à bruta. Vamos com calma, temos tempo. Consegui, no entanto, persuadir a Lady em determinados assuntos - a trela e a coleira são encarnadas ("ó amor, esta cor vai tão bem com o branco dela... o branco e o preto, aliás"). E vai mesmo.

Lolita lançando-se sobre o esférico para um corte de excelência. A jovem estrela demonstra aqui todo o seu potencial físico, para além de uma garra fora de série.

Uma das coisas mais intrigantes, a roçar mesmo o bizarro, que me aconteceram quando fui buscar a cachorra foi, no momento em que a vi, ter pensado inusitadamente "em que posição é que ela pode jogar?". Não estou a exagerar nem a fantasiar: eu pensei mesmo isto. "Salta muito bem, tem boa elevação" foi logo a minha primeira impressão. Mais tarde, já em casa, atirei-lhe a bola. Não só não a dominou como imediatamente se desinteressou do lance e eu pensei "mau... tu queres ver?". No dia seguinte, vi-me obrigado a desafiá-la para uma peladinha intensa - reagiu bem e mostrou dotes, mas ainda se cansou depressa. Agora, passada uma semana desde a sua chegada, parece estar a atingir um pico de forma. Nos primeiros dias, lembrava-me o Javi Garcia: muito bem posicionalmente, saltava como poucos e ocupava bem os espaços - mas faltava-lhe algo mais; evoluiu para uma espécie de Matic: juntou ao poder nas alturas e à inteligência posicional, um domínio de bola com finésse e uma quase omni-presença sobre o terreno de jogo; hoje revelou-se um autêntico Enzo Pérez: joga e faz-me jogar, conduz a bola, atira-se-me às canelas, luta por cada milímetro, marca-me impiedosamente e ainda me dá cabo dos rins.

Lolita, depois de sair para receber os merecidos aplausos, ouve atentamente os cânticos do dono (que preferimos não reproduzir). Que grande exibição!

O aspecto que Lolita mais precisa de trabalhar é a disciplina táctica: impossibilitada de ir à rua, tem de aprender a fazer no jornal. Apesar dos claros sinais de progresso que apresenta, há ainda muito a melhorar. Abundam jornais velhos cá por casa - a maior parte deles são A Bola. Escolho, claro, cuidadosamente as páginas que uso para o efeito da educação dejectante do animal. Tenho evitado as páginas dedicadas ao desporto (normalmente, recorro à secção Outros Mundos, com especial incidência nas notícias sobre a crise, as eleições europeias ou anúncios de cortes). Mas hoje, excepcionalmente, recorri à secção do FC Porto - tem corrido razoavelmente, apesar de não poder falar em "sucesso retumbante" - já fui obrigado a servir-me da esfregona quatro vezes, inclusivamente. De qualquer modo, mantenho a esperança que este novo modelo de jogo resulte, abençoando a partida de logo à noite.

domingo, 16 de março de 2014

Os quatro, os três e os outros dois

Vou escrever um texto porque o Funes Mori conseguiu um póquer. Tem sido uma semana cheia de assuntos, mas vou focar-me primeiro naquele que mais mexeu comigo: o Lima, que chegou ao Benfica há quase dois anos por quase cinco milhões de euros, nunca conseguiu um póquer com a Digníssima vestida. Repito aqui o que escrevi na altura em que comprámos o Lima ao Braga: por esse preço, com aquela idade, oriundo daquele clube e com o fraco currículo que trazia, seria bom que rapidamente marcasse quatro num só jogo para que, na minha cabeça, toda a operação fizesse algum sentido. Hoje à tarde, um jogador que há três anos surgiu num sonho meu - um sonho normal de Benfiquista: sonhei que o tínhamos contratado, só isso... -, enfiou quatro nas redes de um Sporting (o da Covilhã) devidamente equipado com riscas verdes sobre fundo branco. Achei que este momento merecia ser assinalado neste blogue.

Sobre os outros temas da semana, gostaria de começar pelo assunto "Jorge Jesus e os três". Na minha opinião, foram poucos. Para aquilo que jogámos, devíamos ter metido mais um, pelo menos - e o Siqueira bem que podia tê-lo feito, mesmo no finalzinho do jogo. Não diria que fiquei indignado, até porque o resultado foi positivo. Mas compreendo a surpresa do Jesus quando perguntou, por gestos, "como é isto, só três?"

Sobre os roubos de que os nossos rivais se dizem vítimas, tenho a dizer muito pouco. Mas gostaria de deixar claro um ponto: a afirmação peremptória de uma opinião não a transforma necessariamente num facto nem obriga a generalidade das pessoas a aceitá-la. O levantamento supostamente isento que o jornal do Sporting fez deixa muito a desejar ao nível da seriedade (não peço, sequer, imparcialidade). A razão não se conquista repetindo centenas de vezes a mesma opinião - há que justificá-la com seriedade, com justiça e com factos, não com opiniões ou com meios-factos e omissões. Acredito que o Sporting tenha razão em algumas situações, mas discordo de que tenha vindo a ser sistematicamente prejudicado. Uma análise séria revelará, creio eu (e não fiz um levantamento rigoroso, isto é uma impressão), um equilíbrio entre o dever e o haver - tal como no caso do Benfica, já agora. Não será uma conferência de imprensa de voz grossa em horário nobre com a intenção de mobilizar os próprios adeptos a dizer "basta" que me vai convencer do contrário. Eu tenho olhos e ainda sei ver futebol.

Para o clássico de amanhã, desejo que o Sporting seja amplamente beneficiado, a bem das ironias da justiça desportiva, por um lado, mas sobretudo com vista à justiça poética. O resultado é-me indiferente (se bem que um empate não me caía mal).