segunda-feira, 18 de março de 2013

Miguel

Estávamos ao balcão da Típica, eu e o Zedu, enquanto Jesus anunciava, sem complicar, que é Jesus mas não é bruxo, e eu disse para o Zedu «será que é desta?» e ele «o que está mal é precisamente este paradigma: a gente perguntar-se se "é desta" como se fosse uma estranheza ganhar; devíamos perguntar se "é desta" quando a possibilidade de perder se anunciasse sob uma nuvem carregada de probabilidade». Ele não terá disto isto de uma maneira tão elaborada e bonita, eu retoquei um bocadinho. Mas percebe-se a ideia e é uma ideia fundamental: enquanto nós encaramos a possibilidade de ganhar como uma agradável surpresa, os portistas encaram a iminência da derrota com o desagrado de quem não está, de maneira alguma, habituado a perder. Para eles, a vitória é o estado natural, enquanto para nós é uma variação exótica da realidade. E não há nada que possamos fazer quanto a isto, a não ser mudar, lentamente, a realidade: ganhando cada vez mais e fazendo-os perder na mesma medida. Vai levar o seu tempo, mas o caminho que levamos parece-me o correcto.

Não pretendendo anunciar grandes novidades, cabe-me informar que faltam 7 jogos, ou seja, há ainda 21 pontos por disputar. O campeonato não está ganho, da mesma maneira que não estava perdido há duas semanas, quando em vez de um Porto fraco, sem ideias e cansado o nosso rival era um Porto esplendoroso, fortíssimo, dominador e asfixiante, que meteu o Málaga no saco, «goleando-o por um a zero», enquanto o Benfica ganhava jogos com muita timidez, muita sorte e por poucos golos. Não goleámos o Bordéus, por exemplo, nem o Beira-Mar, nem outras equipas de que agora não me lembro, e não fomos fantásticos nem deslumbrantes. Fomos ganhando, e tal, numa sequência magrinha de serviços mínimos e algum esforço.

Duas semanas, em futebol, pode ser muito tempo e quem hoje ler os jornais percebe que, no mínimo, se tratam de equipas diferentes, este Benfica e este Porto, agora que os primeiros trataram de fazer 9 golos em dois jogos para o campeonato, eliminando, pelo meio, um Bordéus que mal deu para aquecer (marcando 3 golos fora, já agora), ao mesmo tempo que o Porto, esmagador e esplêndido, se deixou eliminar pelo insurrecto Málaga da mesma maneira que voltou a perder pontos no campeonato: tendo muita bola mas não sabendo muito bem o que fazer com ela quando chega a hora da verdade. É curioso que já em Fevereiro eu havia comentado com um amigo portista que o Porto jogava muito bem à bola, mas que lhe faltava "golo" - e isto apesar do extraordinário Jackson lá na frente (não estou a ser irónico: pode falhar penalties, mas é um avançado extraordinário, com uma série de argumentos e talentos que são de impor respeito).

Enfim, mas todo este discurso não passa de uma introdução para o assunto fulcral que me trouxe aqui: o sonho que tive na noite de sábado para domingo. Foi um pouco assustador. Vou resumir: Luís Filipe Vieira fazia um anúncio oficial no qual declarava explicitamente que a renovação com Jorge Jesus dependia do resultado com o Vitória de Guimarães. Caso não ganhasse, não havia renovação para ninguém. Até aqui, tudo é mais ou menos aceitável - embora tremendamente injusto, digo eu. O pior vinha a seguir. O presidente declarava o seguinte: «caso Jorge Jesus falhe na sua missão, já temos treinador para a próxima temporada, um homem da casa: Miguel, que já nos deu tantas alegrias como jogador, passará a liderar a equipa técnica». Foi nesse momento que acordei, calcei os chinelos do Benfica, coloquei 4 cachecóis do Glorioso ao pescoço, montei o altar com as Digníssimas Encarnadas e pus água a ferver para fazer um chá de camomila.

1 comentário:

Unknown disse...

Tens que deixar de fumar essas cenas maradas antes de te deitares Diego, senão depois vens com esses pesadelos oraculanianos perfeitamente assustadores :P