quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Horroderick, Joaquim e parabéns meu Benfica

Não, falhar um penalty não é o fim do mundo. Já falhar em praticamente todos os aspectos relacionados com o jogo de futebol parece-me ser um mau princípio quando o indivíduo em questão pretende ser, precisamente, jogador de futebol. O meu talento para reconhecer talentos e analisar potenciais é sobejamente reconhecido e, por isso, por tudo aquilo que penso do Roderick neste preciso momento - e desde há mais de um ano -, é bem possível que a história acabe por me desdizer e o rapaz venha a ganhar uma Bola de Ouro ao serviço do Bayern Munique. Porém, não creio. Acho que desta vez não me engano.

Mas hoje é dia de festa e não estou aqui para apontar a dedo os culpados pela eliminação da Taça da Liga - embora me pareça que o insucesso e a utilização de Carlos Martins, por exemplo, são fenómenos que coincidem muitas vezes sobre o mesmo tapete verde. Há 109 anos, numa farmácia em Belém, um grupo de rapazes bem-aventurados fundou o Benfica. Quero dizer, na verdade, Cosme Damião e seus pares fundaram o Grupo Sport Lisboa que, anos mais tarde, juntando-se ao Clube de Benfica, viria a formar o Glorioso Sport Lisboa e Benfica. As opiniões dividem-se em relação à data de fundação: devemos considerar esta, a do nascimento do Sport Lisboa, ou a outra, da fusão dos dois clubes? Quanto a mim, a questão é pouco pertinente, eu gosto é de festa, e era capaz de festejar aniversários do Benfica uma vez por mês, se fosse preciso. Porque o Benfica merece fazer anos sempre que lhe apetecer.

Quando penso no Benfica, na sua origem, nos seus 109 anos de história, nas suas conquistas e nas suas derrotas, nas suas dificuldades e no seu poder, na sua grandeza e na sua origem humilde, nas suas figuras carismáticas, no Estádio que já teve e neste que hoje tem, penso «Deus podia perfeitamente ser do Benfica». Eu, pelo menos, se fosse Deus, claramente seria do Benfica. É o Clube mais divino à face da Terra e o facto de ser terreno está, com certeza, relacionado com uma necessidade muito simples: permitir que compita com outras equipas. De resto, a sua natureza é severamente divina, não tenho dúvidas.

Quem nunca, por mais divindades que se unam em prece, foi, é ou poderá algum dia vir a ser do Benfica é o Quim. Para já, é batoteiro, mete-se a defender os penalties lá à frente. Quando os jogadores do Benfica chutavam, já estava ele a fazer a mancha na linha da pequena área, praticamente. Fora isso, é uma pessoa cheia de ressentimentos, com pouca nobreza. Talvez seja essa a razão que o impediu sempre de ser bem-amado e aclamado na Luz, mesmo quando mostrou ser um bom guarda-redes, com elasticidade, reflexos e valentia. Porém, esses atributos exibidos foram recorrentemente ofuscados pelas birras com o Clube, pelos gestos para os adeptos, pelas iniciativas de queimar tempo de jogos de um a zero aos cinquenta e dois minutos. Foi esse seu lado mesquinho que o levou de volta ao seu sítio ideal, onde todas as semanas é um dos três melhores guarda-redes da equipa.

Contudo, o magnânimo Benfica, ainda mais em dia de aniversário, deve estar grato ao Quim. Eu estou: pelo que fez enquanto defendeu as nossas redes e também pelo que fez ontem, defendendo as redes dele e retirando-nos a rede de segurança que tem feito de placebo para uma equipa que não ganha um campeonato há 3 anos e uma Taça de Portugal há 9 - agora, não há nada a fazer, temos mesmo de ganhar pelo menos um desses troféus.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Haja tremoços e cerveja

Alguns amigos Benfiquistas têm tido algumas ideias alternativas. Já li e ouvi dizer que esperam que «o Sporting consiga ganhar ao Porto» para que o Benfica assuma a liderança. Eu acho engraçada a própria ideia de o Sporting «conseguir ganhar», logo à partida, e qualquer amigo sportinguista compreenderá porquê.

Passando por cima do aspecto humorístico que essa possibilidade encerra, pessoalmente, e no meu modo muito Benfiquista de ser, tenho pudor relativamente à ideia de o Benfica poder ser ajudado pelo Sporting na luta pelo campeonato. Se for para acontecer tal coisa, espero que suceda de um modo esmagador, digamos com uma goleada devastadora, por 2 a 0 ou mais, de tal modo desmoralizadora para os portistas que o plantel e a própria estrutura do clube se sintam humilhados e sem forças, a ponto de toda a época estar perdida - permitindo, inclusivamente, ao Sporting ter esperanças matemáticas renovadas, jornada após jornada, de chegar ao segundo lugar (e falhando o mesmo Sporting na derradeira ronda, consumando a tradicional peseirada).

Os campeonatos perdem-se e ganham-se em qualquer campo e em todos os campos ao longo de 30 jogos. Existem, porém, dois jogos por ano em que me recuso a tomar partido, abdicando facilmente de eventuais dividendos que o Benfica possa vir a tirar do desfecho desses desafios. Quando Porto e Sporting se juntam no mesmo relvado, tudo o que espero é um enxurrada de erros de arbitragem, muitos cartões vermelhos, alguma pancadaria e, se não for pedir muito, lesões prolongadas para o João Moutinho, para o James Rodríguez, para o Jackson Martínez, para o Mangala e para o Alex Sandro. Tudo o resto, como o resultado do jogo, por exemplo, não passa de danos colaterais.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A vida feliz é um handicap

Li nos últimos dias, algures, que o Pistorius teve direito a uma caução "acessível" para que pudesse aguardar o julgamento em liberdade. Segundo a notícia, o sistema de justiça sul-africano receou assumir a responsabilidade por um prisioneiro amputado, alegando que este, acusado do homicídio da namorada, ficaria vulnerável ao ambiente previsivelmente violento e hostil da cadeia onde ficasse preso. Temos, portanto, o sistema a tomar cautelas pelo cidadão com deficiência - que podia ter pensado neste e noutros detalhes antes de ter espetado quatro tiros na mulher, digo eu.

O handicap é um conceito que pode gerar perversidade, como se comprova pela notícia citada. A discriminação positiva, quando mal utilizada e/ou aplicada, pode levar a situações de injustiça. Situações essas que podem afectar, por exemplo, a minha pessoa ou, para ser mais preciso, o cidadão que eu julgava existir em mim.

Hoje acordei bem cedinho. Mas bem cedinho mesmo na escala do cidadão médio, que trabalha e apanha transportes públicos e mete as crianças no infantário e faz essas coisas que a sociedade incentiva e o sistema regulamenta. Ainda não eram oito da manhã e já eu fazia o exercício do despertar cerebral no Chess.com - com assinalável sucesso, se me é permitido o acrescento nada modesto.

Para o leitor assíduo deste blogue, o meu amanhecer prematuro poderá causar espanto, até porque sou uma pessoa desempregada e aparentemente sem compromissos nem horários. Mas é precisamente por ser desempregado que me vejo obrigado a sacrificar horas de sono, num exercício que conduz invariavelmente à frustração. Há quatro dias consecutivos que me levanto da cama com um só objectivo que permanece por concretizar: ser atendido num balcão da Segurança Social.

A minha motivação é desoladora: pretendo reclamar por não me ter sido atribuído o subsídio de desemprego (para o qual descontei). Não fui, sequer, notificado acerca do assunto - fiquei a saber que o meu pedido foi indeferido numa das minhas apresentações na Junta de Freguesia, uma medida imposta aos desempregados em tudo semelhante ao termo de identidade e residência imposto a Oscar Pistorius por ter matado a namorada e não ter pernas. Nós, os desempregados, temos de provar que existimos e que permanecemos na nossa área de residência e que continuamos desempregados e que concorremos a empregos. Em absoluto, a medida parece justa; em comparação com o campeão paralímpico, pressente-se alguma injustiça em, pelo menos, uma das situações.

Assim, liberto da obrigação de apresentação quinzenal, vejo-me condenado a pena bem mais pesada: privado de uma receita que é minha por direito, apresento-me diariamente numa (ou mais, como foi o caso de hoje) loja do cidadão com a esperança, comprovadamente vã, de obter uma explicação, uma resposta e, no fim, a oportunidade de reclamar. Em todas as tentativas obtive o mesmo desfecho: não consegui aceder às senhas de atendimento. Porquê? Porque não sou um "cidadão prioritário": não possuo crianças, nem de colo nem das outras, não sou idoso nem sou portador de deficiência. No fundo, sou uma pessoa portadora de uma extraordinária normalidade, o que consiste num enorme handicap nestes assuntos.

Tenho tido aquilo a que se pode chamar "uns dias tramados". Hoje foi só mais um. Goradas as expectativas de ser atendido na loja do cidadão nas Laranjeiras, criei falsas esperanças de ser atendido nos Restauradores. Munido d'A Bola, comprada pela fresquinha para ler sobre a vitória de ontem - e para perceber se a peitada do Lima tinha ou não entrado: entrou mesmo -, sentei-me e prossegui a leitura. Agravou-se-me a frustração quando percebi que a 7 de Março, dia em que pisarei um dos palcos que eu mais desejei desde que comprei a primeira guitarra, o Benfica recebe o Bordéus e eu não vou poder ver. Mais um handicap pelo melhor dos motivos. Tem sido muito complicado lidar com a minha vida afortunada.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Momento pedagógico - revisão da matéria dada

Continuam a chegar-me propostas de troca de links. O post que se segue é antigo mas, aparentemente, não foi lido por todos. Aqui fica, de novo. Quem já o leu, não perca tempo.

Manual do bloguer de bola - versão muito resumida

Por vezes, chegam a estas caixas de comentários mensagens do género:

«Gosto muito do vosso blogue e estou a começar o meu, o euseimaisdeboladoqueofreitaslobo.blogspot.com, e gostava que incluíssem o link na vossa barra lateral. Se o fizerem, eu retribuo.»

Não percebo grande coisa da dinâmica da blogosfera nem sei como potenciar a leitura massiva de um blogue. Prova do que digo é que raramente passo dos 400 leitores por dia. Para terem uma ideia do quanto o número é ridículo, a Marta Rebelo, por cada crónica, chega tranquilamente aos 800 mil leitores - e só dois é que gostam dela. No entanto, sei outras coisas que podem ser úteis para o bloguer que inicia funções. Pode não fazer dele a nova Marta Rebelo. Mas apresenta outras vantagens, nomeadamente para mim. Se não se importam, vou organizar isto numa lista. E pôr números nos tópicos. Eu gosto de números e tópicos, dá um ar técnico à cena. Gosto mesmo disso. Portanto:

1) As boas maneiras.

Este tópico é generalista, já que o tema abrange todo o convívio entre humanos. Imaginando a blogosfera futebolística como uma comunidade, as boas maneiras são sempre bem-vindas. Assim, caro bloguer, ao invés de me propores algo que eu não te pedi e que posso dispensar com a maior das indiferenças, sobretudo depois de ter lido a mesma proposta em 57 outros blogues de futebol que frequento sem que tivesse existido sequer a preocupação com a concordância entre o número a que aponta a tua mensagem e a quantidade de pessoas que escreve neste blogue (lamento, sou só um…), por que não uma demonstração de cortesia da tua parte? Ser cortês fica bem até numa reunião entre o Pinto da Costa e um dirigente da arbitragem, o YouTube não me deixa mentir. Assim, sugiro que deixes de parte esse esforço inglório de palmilhar blogues e blogues, de copy-paste em copy-paste, a ser chato, a ser incómodo e a ser ignorado, e canalizes a tua energia para uma coisa muito mais simples: linka os blogues de que verdadeiramente gostas. É simpático e será uma questão de dias até que os administradores desses blogues se apercebam da tua gentileza. Quando o fizerem, visitar-te-ão e, te garanto, se gostarem do que lerem, serás justamente retribuído.

2) A intervenção pública.

Tens muitas coisas para dizer, pois tens, aliás, foi isso que te levou a fundar um blogue só teu: tens uma opinião muito própria, extremamente própria, e achas que ela importa realmente. És jovem, tens vigor, sabes coisas e a ti ninguém te manipula, não senhor, tu és independente! Pois bem, nada como mostrá-lo ao mundo. Mas calma: o passo não deve ser maior do que a perna. Assim, antes de iniciares a produção daquilo que será a futura enciclopédia do futebol pós-moderno e vanguardista – e para que não a escrevas sem que ninguém dê por isso a não ser que espalhes o teu comentário-melga por cada pardieiro que se aparente vagamente com um blogue –, que tal comentares os blogues que lês e – vá lá, confessa – te serviram pelo menos de molde, nem que seja pela negação das aberrações que são quando comparados com o teu modelo brilhante, que frequentas diariamente? Aí, podes, sem compromisso, experimentar o debate, a argumentação, a própria escrita, em casos extraordinários, a leitura e compreensão do que os outros dizem. Bem sei que parece disparatado mas, eventualmente, darão pela tua presença. Nesse momento, clicarão no teu nick que os há-de encaminhar para o teu blogue. Então, estaremos perante a situação descrita no ponto 1 (opá, o que eu gosto disto dos pontos! Fica tão mais simples. O Sporting não sabe o que perde, de facto… ter pontos é tão bom).

3) A atitude.

Agora que já foste cortês e interventivo e, com isso, captaste a atenção de alguns distintos bloguéres (que palavra chic) do futebol nacional, convém que estejas preparado: tens de ter textos à mostra para que possamos deleitar-nos com a leitura do teu génio. Porém, isto não é só literatura. Nada disso, as coisas não podem ser assim tão simples, não é? Pois claro que não. Um bom blogue sustenta-se na atitude do seu autor (quando são vários autores, as diversas atitudes criam uma dinâmica própria que tornará o blogue, em si, distinto de todos os outros; no entanto, e pelo que conheço, os blogues comunitários, digamos assim, têm sempre uma espécie de “líder tribal” que concentra em si a atitude que os leitores esperam quando, pela manhã, abrem o blogue em busca de novidades. Mais que não seja, porque esse redactor compulsivo escreve, por norma, 92% dos posts expostos – e não estou aqui a apontar o meu dedo a ninguém, escusam de se insurgir). Não existe uma atitude que possa ser eleita como “a” atitude. Mas temos para ti vários modelos à escolha. Vou apresentar-te os três com maior implante implantação neste nosso pequeno mundinho.

3.1) [Opá, que maravilha… 3.1… classe! Classe!] Sintetizador do óbvio.

Se não quiseres ter muito trabalho mas, em contrapartida, pretenderes garantir vasta audiência, faz o seguinte: finge que os teus leitores não vêem os jogos, não lêem jornais e não gostam de pensar. Posto isto, supõe que TU és o guru que os vai iluminar, mostrando-lhes o que acontece em frases claras e simples como «o Benfica ontem sentiu dificuldades, mas conseguiu levar a água ao seu moinho». Depois dissertas um pouco sobre o assunto. Se puderes, especula – do género «e se Aimar tivesse jogado de início?» -, mas sempre sem exagerar. Lembra-te: estás a fingir que nós não pensamos e nós estamos a fingir o mesmo. Portanto, não nos dês muito trabalho: diz-nos aquilo que sabemos que vamos ler.

3.2) Provocador.

Esta postura também dá milhões de clientes. És do Benfica? Faz posts a gozar com o Porto. És do Porto? Faz posts a dizer mal do Benfica. És do Sporting? Xinga os do Braga até não poderes mais. Não falha. Os teus rivais vão andar em cima de ti como o fora-de-jogo em cima do Postiga: não te dão um milímetro. Serás insultado, vandalizado, apupado, moralmente violado, tudo isso. Mas serás, sobretudo, visitado. E não é isso o que se pretende?

3.3) Literato.

Não é para todos, mas quero que saibas que acredito piamente nos teus talentos e, por isso, esta é a modalidade em que te vejo, sem margem para dúvidas. Dominas a escrita como o Pepe controla a raiva, o teu discurso está ao nível do de Jorge Jesus – calma, só ao nível da criatividade –, leste mais romances clássicos do que exemplares d’ A Bola no tempo do Olímpio Bento? És o homem certo para o lugar vago. Ter um blogue é um exercício de pavão, é bom que tenhas consciência disso. E, se tu não gostares de ti, Narciso, quem gostará? Exibe-te, espalha o teu glamour.

Agora, vai, dá o teu melhor. Mostra ao mundo o quanto és bonito. Eu estarei cá para te ler. E, se gostar, partilho o link na minha barra lateral. Palavra de honra.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Quatro bolinhas de sabão

Lembro-me daquela mão do Abel Xavier, imediatamente escondida debaixo do corpo estendido sobre a relva. Xavier não queria levantar-se, ninguém queria acreditar. Lembro-me de uma nação inteira incrédula, em negação: aquilo não era penalty. Nunca na vida! Mas qual penalty, senhores, qual penalty?! Estava tudo feito: Portugal era para queimar, a França estava a ser levada ao colo. Henrys, Zidanes, Djorkaeffs, Deschamps's, Thurams, Desaillys, isso o que é? Não fossem os cordelinhos que o Platini anda a puxar e aquele golo do Nuno Gomes teria sido suficiente para nos levar aos penalties, essa é que é essa.

Na época, ainda se jogava o prolongamento em modo morte súbita: a bola entrou e o jogo acabou ali. A geração de ouro ficava ali, à beirinha da glória, derrotada pela mão do Abel Xavier, que nunca foi mão, e pelo pé esquerdo de Zidane, que nunca hesitou na hora da verdade. Portugal perdia a cabeça e ressuscitava uma besta negra vestida de azul.

Lembro-me de, no dia seguinte, alguns portugueses ganharem alguma clarividência: havia uns quantos que admitiam, ainda que a custo, a possibilidade de, sim senhoras, a bola ter tocado, vá lá, na mão do Abel Xavier. Os dias foram passando e depois os meses e depois os anos até que, hoje, não serão muitos os portugueses a afirmar sem vergonha que aquilo não foi penalty.

Este tipo de cegueira colectiva que leva à formação de uma convicção errada e inabalável tem a sua explicação: às vezes, não queremos acreditar no que é claro. Custa-nos. Por mais indesmentível que seja uma realidade, a frustração tolda-nos o raciocínio e impede-nos de aceitar o facto. Estas situações podem verificar-se em diversas circunstâncias - tanto pode suceder numa meia-final do Campeonato da Europa como num simples jogo do campeonato em que dois pontos de avanço já cá cantam e depois puff, rebentam no ar. A probabilidade de acontecer aumenta se o puff se repetir em duas jornadas consecutivas.

Para que as pessoas se animem, deixo aqui uma pequena homenagem aos quatro pontos que o Benfica perdeu podia ter perdido para o líder do campeonato. A música cura tudo.

Açorda de espinafres

Ontem ninguém me viu no Estádio da Luz. Em vez de aproveitar a oferta do Dia dos Namorados para dar seguimento ao processo, que se adivinha lento e penoso, de conversão da Lady Verde ao saudável Benfiquismo, fiz questão de a acompanhar numa expedição ao Algarve que tinha como principal propósito a participação numa festa de aniversário.

Não era uma festa qualquer. Não só se tratava do aniversário de uma senhora por quem tenho apreço em doses generosas, como requeria um determinado preceito: o dress code era "figuras dos anos '80", com alguma flexibilidade para personagens que marcaram a década que se seguiu. Madonnas contei cinco e Spice Girls apareceram pelo menos 12, sendo que 7 ou 8 eram a ginger spice, aquela que usava uns tamancos grandes e pintava o cabelo de encarnado - opção que é sempre de louvar. Por uma questão que a lógica faz o favor de justificar, fui de António Variações: de uma penada, defendi a pop nacional, cantada em português, vesti calças encarnadas e usei brincos sem motivos para ficar ralado e dei uso substancial e vistoso a esta barba que uns dias me orgulha e outros me transtorna. Foi uma bonita festa, pelo menos a parte de que me lembro.

Enquanto o rei da pop portuguesa verificava se os cães dormiam confortáveis, o rei da pop americana passava lá por trás, só para aparecer na fotografia.

Hoje, a viagem de regresso foi penosa: saímos tarde, chovia muito, a seguir veio nevoeiro e eu não tinha como ver o jogo, que começava dentro de hora e picos. Devíamos estar na zona da Mimosa - importa dizer que fizemos e costumamos fazer a viagem pela estrada nacional, que eu para esbanjar com chulos já me basta fazê-lo com a Segurança Social, a EDP, a EPAL, a Galp, a Caixa Geral de Depósitos, todas as entidades bancárias que eu salvo com os meus impostos e o Estado Português, de um modo geral - quando, praticamente em desespero, decidi ligar o rádio no telefone (o rádio do carro não lê CD's nem apanha FM, AM ou onda curta - mas lê mp3 em pen, é um rádio muito moderno). A primeira rádio que apanhei foi a Renascença, com comentários do Pedro Azevedo, e pensei logo para comigo «esta merda vai correr mal». No momento em que alguém do Benfica - que deve ser de uma modalidade amadora jogada com o abdómen, visto que nunca faz a coisa bem feita - se preparava para bater mais um canto, decidi «vou aproveitar o tempo morto e procurar a Antena 1». Ainda o Ricardo engonhava para bater o pontapé de baliza quando a sintonia ficou perfeita e pensei de novo, quase em silêncio, «isto não vai ser fácil mas ainda vai ao sítio, cheira-me a penalty nos descontos».

O meu plano para o resto da viagem era, nesse momento, bastante simples: chegar Alcácer do Sal um pouco antes das nove e alegar uma fome insuportável e potencialmente letal, sugerindo, em simultâneo, repasto personalizado e distinto na pequena maravilha que é o Hortelã da Ribeira, o único restaurante daquela cidade onde me são garantidos dois luxos: SportTv e uma cozinha a roçar a excelência.

Os ovos com espargos estavam deliciosos, a açorda de amêijoas com espinafres (na foto) foi uma agradável surpresa para este palato inculto, o jogo estava parado e foi continuando assim, o vinho caseiro, muito nobre, tinha 15 e meio e o "meio Bushmills" acabou por ser oferta da casa, julgo eu que devido a "simpatia de Benfiquista".

Enquanto a Lady Verde se atirava a uma sobremesa de frutos secos com mel, eu, inspirando-me no guarda-redes da Académica, empatava tempo como podia antes de cada colherada numa açorda que arrefecia tão rapidamente quanto se aproximava o minuto '90. E foi entre a última colherada e um foda-se profundo e sentido com origem e destino no Carlos Martins que explodi «é penalty, caralho!» para espanto dos (felizmente) poucos presentes. Em minha defesa, indaguei apenas «então não é penalty?!», tendo recolhido compreensivas anuências e um complementar e enfático «em qualquer parte do mundo» de um senhor numa mesa do canto que estava a beber um bagacinho.

Pedi o café e um toquezinho de Bushmills, perguntei se se podia fumar, trouxeram-me tudo e mais um cinzeiro. Acendi o cigarro - um AC, vindo directamente do Lobito e que aconselho vivamente a quem está cansado das manhas da Phillip Morris e das cascas de eucalipto da Tabaqueira - e o Lima partiu para a bola. Lá foi ele, devagarinho, e devagarinho caiu o Ricardo e depois o Lima chutou, já de força. Foi, quanto a mim, um dos melhores golos da época, um milagre de golo, como o são todos os que sucedem na desesperança e na descrença: na minha cabeça, o Lima escorregou, o Lima tropeçou, a bola saiu torta, a bola bateu na barra, a bola bateu no poste, a bola entrou mas o árbitro mandou repetir e expulsou o Lima, aconteceu de tudo um pouco durante aquela caminhada lenta e tortuosa do Lima em direcção à bola. Já estava a bola dentro da baliza e o Lima com a camisola na mão a festejar euforicamente quando eu disse «foda-se, foi golo, finalmente, porra!». Depois disso, pedi a conta, acabei o Bushmills, fumei mais dois cigarros de seguida e com muita urgência, paguei e saí. Estava eu à porta quando o senhor do bagaço me pergunta «então e não bebe um bagacinho?» e eu «já bebi, já bebi... mais não posso» e ele «é que pagava eu... o senhor é um bom Benfiquista».

Chegámos a casa tarde, mas chegámos bem. Alimentados no corpo, no paladar e no espírito.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O domingo de bola mais dramático de todos os tempos

Andava meio Portugal, de Ovar a Olhão, de Torres Vedras a Sesimbra, de Loulé a Estarreja, de Sines à Mealhada, com a Cabeleira do Zezé na cabeça, a tentar perceber se ele afinal é ou não é, e estava eu colado à página da Live Scores - fiquei sem telefonia e agora, para acompanhar a marcha dos resultados, recorro às novas tecnologias - como se estivesse de castigo. Não é - absolutamente - a mesma coisa. O quanto eu queria ouvir com atenção o Sporting - Marítimo à espera que a Académica fizesse o golo do empate enquanto um dos comentadores descrevia mais uma inacreditável perda de bola de Rinaudo à saída do meio-campo, sempre antecipando aquela entrada que, vinda de longe, se vai aproximando, aproximando, aproximando, acompanhada do efeito sonoro vziu-vziu-vziu, «GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO» numa palavra sem fim, que dispensa o «LOOO» porque já toda a gente sabe como ela acaba. Acabei dando por mim a olhar para uma tabela de resultados com luzes verdes a piscar e minutos a passar e a Académica sem marcar e o Moreirense a fazer o terceiro e o Gil Vicente que não me conseguia parar aquele Setúbal, uma das piores equipas que eu vi jogar nesta liga.

A minha vida não é só ter este blogue - eu também estou ligado a outros blogues. Daí que, em vez de ter andado, como o estimado leitor andou, a sambar de tanga em cima de um palco alegórico atrelado a um tractor, eu tenha ficado em casa a cuidar da evolução dos resultados da bola. A verdade é que um desses blogues a que estou ligado tem uma particularidade que o distingue dos demais: serve quase exclusivamente para conduzir uma liga privada, que se disputa entre amigos. Trata-se de uma competição mais ou menos saudável que mistura a compreensão da conjuntura, o talento para a leitura de jogo, o jeitinho para o palpite e a experiência de apostar no totobola. Todas as semanas os participantes nessa liga pegam no quadro de jogos do campeonato e apostam 1 ou X ou 2 no resultado de cada um dos jogos - temos ainda direito ao uso de uma aposta dupla por jornada. Depois é esperar que os Tozés Marrecos da Zon Sagres nos venham confirmar as previsões. Antes do Natal faz-se um jantar de grupo e no final da época jantamos juntos outra vez. Os atletas da segunda metade da tabela pagam o jantar; os da primeira metade comem e bebem o quanto puderem ser qualquer tipo de preocupação ou piedade. O vencedor da competição ganha ainda uma camisola à sua escolha, que será paga pelos restantes concorrentes. É um jogo simples, portanto.

Até ontem, e desde há umas quantas jornadas (creio que são 6, mas não tenho a certeza), eu liderava, com alguma tranquilidade, a tabela. Para esta jornada, a minha aposta foi a seguinte: Estoril - Guimarães: 1; Académica - Rio Ave: 1/X (foi a dupla que usei); Sporting - Marítimo: 1, Moreirense - Beira-Mar: 2; Setúbal - Gil Vicente: 2; Nacional - Benfica: 2; Porto - Olhanense: 1; e Braga - Paços de Ferreira: 1. Ou seja, até ao momento, consegui o extraordinário número de um acerto em sete palpites. É trágico.

No entanto, e porque o futebol é um belíssimo desporto, carregado de drama e de justiça poética, existe a possibilidade de, mesmo depois desta exibição risível, eu manter a liderança da prova, bastando-me para tal que o Braga vença o Paços de Ferreira. Vou confiar que a carnavalice de ontem não irá repetir-se hoje, até porque o Pedro Proença já desfilou, por entre bombos e ponchas. A única coisa que me assusta é aquela sensação peseirista de que isto ainda pode correr pior.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Permitam-me que questione um elogio

Que maravilha, que «não festejou o golo em Braga», dizem. Li algures, há uns dias, este inesperado elogio a Rodrigo José Lima dos Santos, craque do ataque Benfiquista que permite extraordinários trocadilhos nas capas dos jornais desportivos por não fazer uso dos nomes Rodrigo, José ou dos Santos. Lima, esse mesmo, o homem que faz golos com mais frequência do que eu escrevo textos para o meu próprio blogue (e de quem ainda espero um determinado poker esta época - mas isso são outras fantasias).

Lima, esse avançado móvel, inteligente, forte e generoso, com instinto goleador e pontapé potente, que bateu, sem dúvidas nem piedades, números de craques da linha atacante por quem se chorou baba e ranho aquando da despedida: estrelas internacionais que dispensam apresentações, como Miccoli ou Saviola (os meus queridos Fabrízio e Xavier Pedro, atenção). Lima, esse de quem duvidei, com o meu sobejamente conhecido talento para a prospecção de talentos (o mesmo talento que me permitiu depositar fé em Emerson ou ter esperança nas mãos de Roberto, de resto), que merecesse um milhão que fosse dos mais de quatro que pagámos àquele clube que anda há uns anos em bicos de pés, a fazer de Boavista.

Dizem-me então que o Lima, especialista em meter antecessores no chinelo, para não falar nos tiros de meia-distância que executa com raro preceito, é um tipo digno de apreço porque, em Braga, depois de ter marcado um golo quando nem eu nem o Beto esperávamos que aquele lance desse meio pontapé de canto, sequer, não festejou o tento. Por respeito ao Braga. Eu, se me permitem, discordo absolutamente desta moda da correcçãozinha de armar ao diplomata.

Eu, que estou no Estádio sempre que posso e que festejo tudo quanto é golo nosso e que pago as quotas todos os meses - dois meses em Dezembro - e os bilhetes sempre que me é necessário, eu!, o mínimo que espero de um jogador do Benfica é que festeje comigo os golos que ele marcar. Porque é o Benfica quem lhe paga e são os Benfiquistas que puxam por ele, gritam o seu nome, o aplaudem e acarinham, semana após semana, às vezes duas vezes por semana. Vão-se lixar com essa teoria polida e repleta de correcção e bons modos: se o Lima marca ao Braga ou a quem quer que seja, o que eu espero dele é que erga os braços com alegria e satisfação, não que peça desculpa ao adversário a quem pagámos, e bem, o preço que nos pediu para que possamos usufruir dos seus serviços em campo.

Podem alegar que o coração nestas coisas também conta. Certo, temos acordo aqui. Eu próprio não festejaria, nunca!, um golo contra o meu Benfica. Decerto sucederá o mesmo com cada pessoa em relação ao seu clube. E com o Lima, pela amostra, sucederá sempre que marcar ao Vizela, ao Mixto, ao Paysandu, ao Iraty, ao Malucelli, ao Paraná, à Juventus de São Paulo, ao Santos, ao Avaí e ao Belenenses, tudo clubes que, como o Braga, certamente terão ficado no seu coração da mesma maneira e pelas mesmas razões que o Braga ficou: porque o empregaram. Pela minha parte, dispensava um coração tão grande e pronto a amar: bastava-me que tivesse festejado o golo condignamente - sem provocações, sem um "toma, caralho" ou algo do género -, apenas um festejo alegre, digno e merecido: "GOOOOLOOOO!», com os braços erguidos.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Quero o Porto fora da Taça da Liga, pronto

Fico contente: o 227218 não cultiva o leitor propenso à patetice ou ao desimportante. Isto é malta que não vai nessa de apreciar o jogo pelo jogo nem de tomar a paixão por órgão vital do fanático. Não. Isto é povo de fazer a leitura do resultado, a previsão do futuro, a antevisão da vitória ou da tragédia, a avaliação peremptória do craque ou do tosco, de opinar sobre o esquema táctico, o esquema da arbitragem ou o esquema do presidente, seja ele de que clube for. Não andamos aqui para recordar Gullits nem Van Bastens ou para ter saudades dos Paneiras desta vida. Pirlos e Busquets?! Era o que faltava: escolher entre Messi e Ronaldo é que é a nossa missão. Mas agora um tipo mantém um blogue Benfiquista para mostrar cachecóis e apreciar Falcões e Zlatans?! Que ridículo, desperdiçar espaço de internet com coisas de somenos quando podíamos estar a esmiuçar a hesitação do André Gomes no momento do passe ou a dança tribal que o Rodrigo executa em torno da bola quando a recebe, à procura de um pé qualquer que, aparentemente, não será o direito, mas que também não parece que seja o esquerdo.

É um texto ressabiado, pois é. Então uma pessoa lança um tema como o hipster da bola e fica a falar sozinha?! Mais de 1200 visitas durante o dia de ontem, mais de 600 cliques no post anterior, onde se pretendia lançar uma conversa sem pés nem cabeça, e quantas contribuições para essa conversa? Nem uma. Mas o futebol é muito mais bonito se a gente vier para aqui discutir o quarto-de-hora fora-da-lei dos três marrecos do Porto na Taça da Liga, não é?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Não tem truque, é uma coisa honesta

Vi uma coisa algures pelo facebook - uma publicação de um amigo, provavelmente, já que o assunto era bola e eu, com a malta da bola que me adiciona, costumo estreitar relações, mesmo que, de início, não faça a menor ideia de quem aquela pessoa se trata -, dizia eu que vi no facebook um artigo - quem diz artigo diz uma piada, uma coisa com a sua graça - acerca de dois temas que me fascinam: o futebol (deduzo que não seja para vós uma novidade) e os hipsters (deduzo que já tenham ouvido o termo - e se vocês próprios o são, não têm do que se se envergonhar... tirando meia-dúzia de coisas, no máximo).

Antes de escrever mais aprofundadamente sobre o assunto, gostaria de meditar sobre ele e, de caminho, tomar o pulso aos meus estimados leitores que quiserem ter a bondade de comentar - aproveito para repetir que consegui finalmente retirar aquele horror da verificação de palavras.

Leitor do 227218 antes da sua futebolada semanal entre leitores-coleccionadores do Ípsilon e malta dos blogues de música e cinema alternativos e/ou indie. O leitor joga pelos blogueres.

Assim, sugiro a leitura desta lista e apelo ao comentário sobre o tema. Eu tenho aqui uma costela ou duas que são de hipster da bola - aquela parte do Busquets, a menção do Zlatan, o Milan dos holandeses... Enfim, não há como escapar. E tu, possuis os pré-requisitos necessários para alinhar numa futebolada daquelas?

Novo reforço apresentado

Tal como fora anunciado ontem, o novo reforço do plantel de objectos que dão jeito para rituais, magias, superstições, ocultismo, voodoo, macumba e demonstrações inequívocas de apoio ao Benfica foi apresentado hoje à hora do pequeno-almoço do sócio - hora do almoço em Portugal continental e na Madeira, menos uma hora nos Açores. O exemplar do Arsenal, alusivo à visita do clube inglês à Luz numa eliminatória da Champions em 1991 - eliminatória essa que o Benfica ganhou e que ficaria para a história devido à esplendorosa exibição de Isaías em pleno Highbury Park - posou para a fotografia com o restante plantel

Da esquerda para a direita e de cima para baixo: jersey de contrafacção da época 2011-2012; camisola oficial de 2010-2011, com o n.º 10 de Pablo Aimar; gorro adquirido na primeira expedição do Grupo Excursionista 'Tá a Andar à Marinha Grande para assistir ao União de Leiria - Benfica, em Janeiro de 2012; cachecol adquirido há já muito tempo, não me lembro porquê; cachecol alusivo ao 32.º campeonato; cachecol do Benfica - Liverpool, no plantel por empréstimo do Roberto Adalberto Norberto Gilberto; cachecol capitão de equipa, titular no meu pescoço desde 2011; o tal reforço do Arsenal; boxer short de Benfiquista adquirido em inícios do terceiro milénio da era Cristã; chinelo de Benfiquista, prenda de Natal de há dois ou três anos.

e depois, numa composição mais selecta, apenas com os capitães de equipa.

Aqui, o reforço arsenalista acompanhado pelo gorro do viajante, pelo capitão de equipa e pelo jersey de Pablo Aimar.

A transferência foi concretizada ao final da tarde de ontem, cerca das 19h00, junto à entrada do Pavilhão Império Bonança. Após a realização do negócio, o novo reforço foi levado, juntamente com o cachecol capitão, a conhecer a roulote do Manelito e, mais tarde, a assistir ao jogo entre Benfica e Vitória Futebol Clube, uma equipa de Setúbal que joga francamente mal à bola. Apesar do adversário débil, o Benfica não conseguiu ir além de um magrinho 3 a 0. No final, comentava-se que Rodrigo a jogar entre linhas, nas costas do ponta-de-lança, era uma enormíssima nódoa. Por outro lado, dizia-se de Enzo Pérez que teria feito o seu melhor jogo com a Sagrada Camisola vestida.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Última hora: transferência inesperada

É oficial: chega hoje ao fim o contrato que liga o 227218 ao cachecol do Spartak de Moscovo. A transferência, que se realiza já para lá do fecho oficial da "janela" que a UEFA determina, só é possível por envolver um clube russo - de outro modo, só poderia concretizar-se em Junho. As negociações, essas, duram há já vários meses: mais concretamente, desde a visita do Spartak ao Clube da Luz, em jogo da Liga dos Campeões. Na ocasião, o cachecol protagonista surgiu numa fotografia encaixotado, no que parecia tratar-se de um ritual macumbeiro ou coisa do género. Na altura, o pretendente e futuro proprietário contactou o detentor dos direitos desportivos do objecto de culto e as partes acabariam por chegar a acordo.

A transferência não envolve qualquer verba, já que o 227218 recusou, por razões afectivas, a venda do passe; antes, o anterior dono do cachecol do Spartak recebe, em compensação, um cachecol alusivo ao Benfica - Arsenal de 1991, um modelo original e fabricado em Portugal, destinado aos adeptos ingleses que, na ocasião, se fizeram deslocar ao Estádio da Luz. Apesar da idade, o "novo" cachecol apresenta-se com grande estampa, continuando a fazer da elegância a sua imagem de marca. Prevê-se que a apresentação do novo reforço aconteça amanhã, à hora de almoço. Mas tudo dependerá dos acontecimentos de logo à noite, na Luz: se o Manelito decidir fechar cedo, é bem capaz de acontecer que o novo cachecol seja apresentado aos sócios ainda hoje.

O 227218 escolheu, não por acaso, este cachecol como moeda de troca: a recordação de Isaías em Highbury Park, na segunda mão da eliminatória que o cachecol assinala, por um lado, e o carinho que o sócio sente pelo clube londrino, por outro, levaram a que a decisão fosse fácil e rápida. Já o cachecol do Spartak, que agora troca de mãos, deverá voltar a transferir-se brevemente, segundo informações a que o 227218 teve acesso. O cachecol do Arsenal junta-se assim a um plantel numeroso e sempre marcado pela presença do encarnado que o Grande Clube glorifica.