quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Adeus Nick

Quem vê em Febre no Estádio um livro de futebol, está a ver tudo mal. Febre no Estádio é uma espécie de enciclopédia descritiva das paixões do autor, sempre ao ritmo dos jogos de futebol que o foram marcando - não necessariamente pelos jogos, em si, mas pelo momento em que aconteceram, pelo contexto que os rodeou, pelas ideias que geraram. Hornby disserta várias vezes sobre elementos da existência que transcendem em absoluto o fenómeno "futebol". Porém, como adepto fanático, mesmo obsessivo (é como o próprio se auto-intitula), toda a sua vida, desde a puberdade, gira em torno (ou no meio ou de mãos dadas) do futebol, em geral, e do "seu" Arsenal, em particular.

Depois de bem instalado - isto é, "bem" dentro do possível - no meu lugar no autocarro, peguei em Febre no Estádio, constatando, com alguma tristeza, que estava a umas escassas dezoito páginas do seu final. Não havia volta a dar: era um fim-de-semana de despedidas. Há objectos pelos (ou com os) quais desenvolvemos uma empatia especial. Tornam-se-nos caros, próximos, companheiros. Muito mais do que o ritual da sua leitura, Febre no Estádio ofereceu-me o seu ombro compreensivo, a sua visão clara e séria, sóbria e, no entanto, afectada, acerca de uma vida que teria tudo para ser normal, não fosse o facto de Highbury Park assumir, para Nick Hornby, uma maior importância do que a sua própria casa ou qualquer maternidade ou cemitério ou biblioteca ou parlamento do mundo. Highbury é "o sítio" (o livro é escrito em 1992, o Emirates Stadium não era, sequer, uma miragem).

Os quilómetros corriam debaixo de nós e apertava-se-me o estômago. Não sabia muito bem o que iríamos encontrar à chegada. Como estariam as pessoas - os filhos, os irmãos, os pais. Nestas circunstâncias, em que o stress é grande, a ansiedade aumenta e um determinado tipo de angústia nervosa e amedrontada se acumulam em nós, não é anormal ou obsceno que tenhamos ideias bastante parvas. Eu não sou excepção. A distância entre o autocarro e a capela onde se realizava o velório diminuía, as páginas escasseavam, os meus dedos tremiam a virar as páginas e eu recordava aquela passagem em que Hornby pensava, muito francamente, no que aconteceria se alguém que lhe é próximo morresse, por exemplo, a poucas horas de uma final da Taça dos Campeões Europeus em que o Arsenal participasse ou noutro jogo de importância extrema que envolvesse os "Gunners". Seria capaz de voltar as costas ao Arsenal? Que tipo de sensações essa "traição" produziria?

É óbvio que a família ou os amigos vêm sempre em primeiro. Mas não deixa de ser desconcertante - não me interpretem mal, isto é apenas franqueza íntima e nunca, mas nunca!, coloquei a hipótese de dar prioridade ao Benfica em detrimento de quem me é próximo - pensar no que teria eu sentido se, em vez de poder festejar, vibrando, o golo de Gaitán, em directo, estivesse em casa, em lágrimas, como vim a estar 45 minutos mais tarde. Não são tristezas comparáveis, não são perdas "do mesmo campeonato" (perdoem-me a metáfora barata). Mas teria sido ainda mais triste e angustiante, não tenho dúvidas.

"O futebol sempre foi muito importante para mim e veio a representar demasiadas coisas e sinto que já fui ver demasiados jogos e gastei dinheiro a mais e preocupei-me com o Arsenal quando devia ter-me preocupado com outra coisa qualquer e pedi demasiada indulgência dos amigos e da família." (p. 243)

"Espero que sejam tolerantes para com aqueles que descrevem um momento desportivo como o seu melhor de sempre. Não é por falta de imaginação nem por termos vidas triste e estéreis; é que a vida real é mais pálida, monótona e contém menos potencial de delírio inesperado." (p. 281)

Quando li a última palavra do livro, senti-me ainda mais sozinho.

A camisa azul escuro

Entrámos no expresso para o Algarve. Era o início de umas extenuantes 57 horas, durante as quais percorreríamos mais de 1500 quilómetros, entre Lisboa, Portimão, Elvas, Faro e Albufeira, para cima e para baixo, para cima de novo, para Norte, para Sul, para Este, de novo para Oeste. 57 horas e viagens acumuladas que, se fossem uma só, dariam para chegar à Riviera francesa.

Sentei-me e endireitei a camisa azul escuro. Não sou dado aos rigores do luto tradicional, mas o bom senso ainda me permite reconhecer que talvez o amarelo ou o encarnado não sejam cores adequadas à ocasião.

Lembro-me de ter arrumado certas ideias: visto sempre de encarnado em dias de jogo. Sábado era um dia depois do jogo. A notícia da tia chegou precisamente quarenta e cinco minutos depois do apito final. Toda a conjugação de tempos me fez sentir respeitado pelo cosmos, pela preciosa gestão dos minutos, das conveniências, dos confortos. Existia ali uma espécie de compensação pela dor e pela tristeza. Nunca será comparável a importância de um jogo de futebol à vida de um ente querido. Nunca pretendi sequer aproximar-me, nem vagamente, dessa ideia. Porém, estes pequenos confortos, estes detalhes, esta não sobreposição de eventos, acrescentam paz, alguma harmonia à situação. Apesar de toda a tristeza, apesar da perda, as coisas estão no lugar certo, tudo se cumpre com alguma lógica - foi isto que senti quando olhei para a camisa azul escuro, em vez da possível angústia que sentiria se tivesse havido conflito de interesses entre a t-shirt encarnada e a minha presença no velório.

O dia do equinócio

Começou tudo comigo a acordar e a pensar "isto não está nada bem". Não.

Começou tudo com um primeiro diagnóstico. Era pessimista. Eu fico pessimista quando as coisas me dizem respeito e são específicas. O diagnóstico era mau.

Primeiro, devia ter chegado ao trabalho às onze. Acordei já passava do meio-dia. Cheguei à minha secretária era quase duas. Fiz torradas com pão demasiado velho, seco. Incomestível. Um iogurte, uma banana: salvemos o dia. O shampoo estava no fim. Só me lembro destas coisas porque este dia me ficou na memória. Fiz as torradas ainda em casa. Não as comi. Lixo!

O dia era aquele especial em que as horas com sol são exactamente as mesmas que as horas sem sol. A humanidade cresceu a olhar para estas coisas. Quantas horas tem o sol? E quantas tem a escuridão? E a lua, cresce ou diminui? A humanidade deprime-me. Pessoas desorientadas, sempre à procura de uma referência.

Era dia de Porto - Benfica. E eu fiz a minha parte. Tentei acordar cedo - falhei -, vesti a t-shirt encarnada - já usada -, calcei os chinelos de couro. Aqueles que descalço no estádio, a fingir que sou a Cesária Évora. Para nos dar sorte

E ela ligou-me "a situação é grave... mesmo muito grave. Não sei o que fazer" e eu, ignorante, disse "calma, pode ser só uma coisa..."

Eu não sei coisas. Ou, sabendo coisas, sei muito poucas. Falo mais do que sei. O pouco respeito que fui tendo dos outros deve ter sido meramente fruto da compaixão - dizem que sim e eu fico contente. E então eu disse "não há-de ser nada, parece-me normal. Vamos esperar". Eu sou estúpido. Há coisas que não esperam.

A Cesária Évora anunciou oficialmente o fim da carreira. A Cesária. Logo hoje. Logo naquele dia em que havia tanto a perder.

O dia continuou e eu não fiquei mais apto. Saí do trabalho a tempo de ver o pontapé de saída. Na Típica. Foi lá que vi o jogo. Lembro-me de pouco. Fiquei com a sensação que o Benfica aguenta e pode reagir a este Porto. Mas não me lembro ao certo. No final do jogo, debatíamos, portistas e Benfiquistas, as incidências, as tácticas, as estatísticas e o golo do Gaitán. Não era mau. Mas algo não estava bem.

Meia-hora, talvez uns três quartos-de-hora depois do fim, chegou a mensagem: "a tia morreu". Simples e poderosa. Eis a frase que me há-de fazer recordar, sempre, este Porto - Benfica. O Outono começou.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Apreensão de última hora

Cesária Évora anunciou hoje que dá por terminada a carreira. Logo hoje?! Por que não segunda-feira? E agora, como funciona aqui a minha invenção dos chinelos da sorte, hum? De ver os jogos descalço, como a Cesária? Será que continua a funcionar? Tenho a dizer que me parece uma atitude muito irresponsável, Cesária.

Diálogo internético em dia de clássico

(Verídico.)

tripeiro: vou fumar e registar o euromilhoes

eu: deus queira que pises merda, tripeiro do c&$#%&%

tripeiro: se me sair, compro o eusébio e cago-lhe em cima
depois limpo o cu à camisola do feher.

eu: gabo-te o gosto
assim se vê o nível do fcp - "ai, vou jogar ao euromilhões"
isso é que é ambição
ganhar com mérito tá quieto - alguém há-de dar uma ajuda
está-vos no sangue

Talvez pudesses ter ficado calado #2

«Não digas desta água não beberei», «não cuspas para o ar», «não mijes contra o vento», «não atires gravilha aos pombos». Os avisos foram mais que muitos. A verdade é que a sabedoria popular reuniu, ao longo de gerações e gerações de esforçados empiristas, um vasto conjunto de pistas que, no fundo, tinham um único objectivo: alertar-me para os riscos de me armar em esperto. Eu, ingenuamente, não liguei nenhuma, porque essas coisas que o povo diz nada me dizem. Está visto que cometi um erro.

Assim, ontem, com a voracidade de quem quer ser engraçadinho, concebi uma chalaça que até podia ter sido de bom nível. Fazer chacota de Eduardo Barroso, embora seja fácil e acessível a qualquer criativo mediano, pode produzir bons resultados e captar audiências – nomeadamente de pessoas doentes do fígado que vão ao Google tentar perceber quem é, afinal, o homem que os vai livrar da cirrose. Era praticamente um golo à espera de ser marcado. E que fiz eu? Atirei ao poste: chamei Alfredo a quem se chama Eduardo, com a maior das descontracções. Isto é coisa que exige penitência. Não tanto pela gafe em si, mas sobretudo por ter arruinado espertalhonamente um texto cheio de potencial.

Como castigo, decidi pôr aqui as minhas orelhas de burro. Como não encontrei nenhumas suficientemente vexatórias, optei por ser mais drástico: cabeça de burro. Ai, Diego, Diego… tu não aprendes.






Diego Armés é de um vermelho granada bastante denso, de nariz complexo com muitas frutas vermelhas amadurecidas, bem casadas com o carvalho por onde estagiou.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Talvez pudesses ter ficado calado #1

(Uma rubrica com esta designação podia ser inaugurada por inúmeras figuras da nossa praça. Porém, e após um exercício pouco sério de pensamento, escolhi a figurinha mais fraca do dia: Alfredo Eduardo Barroso. O vosso aplauso, por favor.)

«Villas-Boas adaptou-se depressa ao futebol inglês. Não se queixou do árbitro e tinha razões para o fazer. Uma lição a reter
(in A Bola, 21 Set. 2011, p. 38)

«Fiquei muito, muito desapontado com a pobre actuação dos árbitros, que desempenharam um papel decisivo no resultado, e não aceito isso de ânimo leve
(André Villas-Boas citado n'O Jogo, 21 Set. 2011, p. 30)

Citando Hornby #2

Qualquer clube nocturno em que entremos, qualquer peça, filme ou concerto a que assistamos, qualquer restaurante onde vamos comer, a vida continua a acontecer noutros lugares na nossa ausência, mas quando vou a Highbury assistir a jogos como este, sinto que o resto do mundo está parado à porta do estádio, à espera de ouvir o resultado final.”
(Febre no Estádio)

O negócio é o seguinte: eu vim da leitura de Borges e dos seus universos perpétuos, da sua construção mental do absoluto e do eterno; pelo meio disso, li o pequeno ensaio de Melville, Bartleby, sobre a obstinação, a solidão e o inexplicável na atitude humana; comecei, e entretanto interrompi, Cormac McCarthy e a sua Estrada pós-apocalítica que, desconfio, não chegará a lado algum. Depois da frase supra-citada, só posso concluir que tudo o que busquei nessas literaturas foi em vão, por mais que tenha apreciado o processo de buscar e de ter lido o que li. Isto, porque o objecto da minha procura estava escrito e explicado desde 1992, numa pequena metáfora futebolística acerca de um Arsenal – Everton disputado em 1988. Quando li esta passagem, só pensei “é isso aí, Nick”.

(O livro, que me foi emprestado, tem agora diversas páginas com os cantos dobrados – são páginas que contêm matéria do meu e do vosso interesse e sobre elas conto escrever durante os próximos tempos. Mário, se me estás a ler, fica a garantia de que irei desdobrar-lhes as pontas antes de te devolver o livro. Espero que não me leves a mal.)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Se o Benfica não jogasse, nem ligava a televisão

Não sei muito bem o que esperar do Porto – Benfica de sexta-feira. Não tenho tido disponibilidade para ver os jogos do nosso adversário. À falta de tempo que me aflige constantemente, pelos mais variados motivos, a minha intuição diz-me que ver os jogos do Porto é uma profunda perda de tempo. Dir-me-á quem já tiver assistido a alguma partida se estou certo ou estou errado.

O meu desinteresse pelo FC Porto não tem que ver com o facto de não gostar desse clube e de ter um desprezo razoavelmente profundo pela pessoa que o dirige. A verdade é que, desde que o Falcao se foi embora, a coisa perdeu o interesse. O Falcao era o meu “bom inimigo”. Eu não gostava de vê-lo a "jogar pelo Porto"; no entanto, gostava muito de "vê-lo jogar". O futebol tem os seus paradoxos e aparentes incompatibilidades: então eu gosto de ver jogar um gajo que me faz perder? O que é que vem primeiro, o amor ao clube ou a paixão pelo futebol? A situação não é a preto e branco, não é de sim ou sopas. A situação é que isto é futebol e uma pessoa, quando gosta de futebol e é adepto fervoroso, tem de sujeitar-se a uma grande quantidade de procedimentos, atitudes, crenças, rituais, decisões, sentimentos e reacções que poucas vezes têm explicação – quando a têm.

O Porto está agora a criar – a engordar, digamos – uma nova criatura com todo o potencial para me desorientar num futuro próximo. Chama-se James. Eles chamam-lhe Rahmés. Como em Rahmés Bond. Mas o rapaz chama-se James. Jovem talentoso, de toque fino e elegância com a bola nos pés, James nasceu algures abaixo do Equador mesmo quase em cima da linha do Equador, num daqueles países à volta aproximadamente nos arredores do Brasil. Tem despertado a minha curiosidade e eu tenho contido essa mesma curiosidade auto-despertando o meu desinteresse pela equipa que tão injustamente representa. Confesso que me estava a guardar para sexta-feira, a contar ver James em acção, a ser abafado por Maxi Pereira e Javi Garcia, sem sequer fazer uma jogada de jeito e permitindo-me, desse modo, alguma paz de espírito, adiando o conflito de interesses – bem desagradável, diga-se – que surge quando me deleito a ver “aquele” jogador que está a dar cabo da minha própria equipa.

James, também jovem impulsivo e não muito esperto, precipitou-se no último domingo. Não me parece brilhante uma pessoa espetar um murro noutra, em frente ao árbitro – a não ser que se trate de um soco valentemente bem aplicado. Agora, o murro de James é um murro de um coninhas, que isto fique aqui bem claro. “Vou te bater, mas não te bato com força, que o senhor árbitro está a ver”. Se era para isso, que ficasse quieto. Assim, está castigado e não magoou ninguém – para além de que levará algum tempo até poder voltar a ter aspirações a meter medo a alguém. Para além disso, priva-me da possibilidade de o excluir desde já da minha lista de jogadores inimigos que admiro.

Com James fora, fica também o jogo reduzido a apenas 75% de interesse. Ou seja, os 75% do tempo de jogo em que o Benfica vai ter a bola. Isto, porque não tenho o menor interesse em ver os portistas baterem pontapés de baliza ou executarem lançamentos de linha lateral.

Aconselhamento ao jogador

1. No jogo contra o Man. United (o “Náite”), já tinha ficado com uma leve impressão: duas ou três hesitações nas saídas aos cruzamentos que ainda não lhe tinha visto deixaram-me de pé atrás. Mesmo no lance do golo de Giggs, houve ali qualquer coisa que me disse “podias ter feito melhor, malandro”. Não estou, como é óbvio, a culpar Artur pelo golo sofrido nem a dizer que podia sequer não o ter sofrido; estou a sugerir que Artur pode não ter estado no sítio ideal no momento do remate do galês (julgo que foi Neno que disse, um dia, algo do género: “os grandes guarda-redes fazem grandes defesas; os melhores guarda-redes também, mas fazem-nas menos vezes porque estão mais vezes no sítio certo”).

Essa impressão, muito discutível – eu próprio a discuti comigo mesmo, vezes sem conta, “lá estás tu a deitar o guarda-redes abaixo, qualquer dia acaba no Saragoça!”, “tu é que és sempre o mesmo crédulo, só vês o erro quando ele já não dá para emendar!” -, ganhou contornos de preocupação com o golo sofrido diante da Académica. Uma vez mais, o caminho aberto de que Danilo dispôs deve ser tido como a principal razão para que o golo acontecesse como aconteceu. Mas Artur estava no sítio errado: demasiado longe dos postes, demasiado longe do avançado, na terra de ninguém, aquele sítio onde estar ou não estar significa mais ou menos o mesmo. A sua reacção ao lance ainda demonstrou bons reflexos; já a sua palmadinha carinhosa numa bola rápida como aquela soou a desperdício de esforço.

Não estou a contestar Artur nem, tão pouco, a tentar beliscar-lhe o estado de graça. Tenho todo o gosto em vê-lo na baliza do Benfica e sinto-me bem mais descansado desde que o lugar é dele. Só quero que o Artur saiba, quando ler este texto, que estou atento e que irei sempre apontar-lhe os erros para que os possa corrigir e tornar-se um cada vez melhor guarda-redes, para que consiga ser seleccionado por Mano Menezes como tanto deseja.

2. Foi também contra o Náite que a apreensão fez questão de surgir: Matic, jogador em quem tanto apostei na pré-época (as minhas notas dizem assim: “notável pé esquerdo, com elevada capacidade técnica”, “forte no choque, implacável no tackle”, “imponente no jogo de cabeça”, “a bravura de um latino a atacar a bola misturada com o sangue frio de um eslavo a guardar posição” – não sei o que andava a ler na altura, mas estava claramente inspirado – eu, não o Matic), entrou muito mal contra os ingleses. Pouco esclarecido em relação aos espaços a ocupar, foi sempre muito precipitado e/ou hesitante na abordagem aos lances. Resultado: poucas recuperações e muitas perdas de bola, maus passes – mesmo os curtos – e um buraco no meio-campo no sítio onde antes existia a segurança de Aimar ao lado de Witsel.

Na altura, dei desconto (e continuo a dar). Tendo vindo do Chelsea, é natural que o Náite o intimidasse um pouco. Já o jogo contra a Académica, no qual ainda me pareceu mais perdido, sobretudo na primeira parte, tenho mais dificuldade em compreender. O nervosismo não se justifica e aquela ansiedade em mostrar serviço só pode prejudicá-lo – até porque o dono daquele lugar é um senhor que prima pela tranquilidade e pelo acerto, nunca perdendo a calma.

Como disse, tenho Matic em alta conta e estou seguro de que se trata apenas de uma consequência de estar com nervos. Também só escrevo isto para que o Nemanja, quando ler, sinta que lhe presto atenção e encontre aqui uma ou outra dica para melhorar e, então sim, jogar como verdadeiramente sabe.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Dragon Ball

Pareceu-me ser um título suficientemente parvo e, em simultâneo, claramente alusivo ao clássico supremo, que irá parar muitos corações um pouco por todo o país na próxima sexta-feira. Provavelmente, não poderá dizer-se que eu tenha primado pelo bom gosto na escolha atrapalhada dessa miserável anime (nunca vou entender os cerca de 98% dos leitores que, tendo entre os 25 e os 35 anos, sentem algum desconforto quando me refiro ao Dragon Ball como “miserável anime” – aquilo era muito mau; dêem-me uma Ana dos Cabelos Ruivos, um Marco Polo, umas Aventuras de Tom Sawyer, aqueles do Bocas e do Ted; se quiserem comover-me e prender-me à televisão, avancem com uma edição de luxo de Vento nos Salgueiros ou, evidentemente, aquelas aventuras do Tsubasa, em que ele demorava sete episódios a ir de uma a outra área; agora, se o objectivo for aborrecer-me, ofereçam-me meia-hora do Dragon Ball ou, em alternativa, três minutos de Power Rangers) para designar o post que ora escrevo e para o qual ainda não defini muito bem um rumo nem um objectivo (ignorem o que está entre os parêntesis anteriores e passem à frente se quiserem compreender a frase, que começa lá em cima, no início do texto, praticamente).

Contudo, não deixa de ser possível construir analogias entre essa epopeia tragicómica japonesa e o jogo que se aproxima. Há a questão das bolas, do poder, do Dragão – aha! -, dos super-heróis, das artes ocultas, da concentração, da honra, da solidariedade e, a meu ver, o Mestre Kame faz lembrar o Pinto da Costa irmão do Pinto da Costa (aquele que faz autópsias). É tudo muito análogo. No entanto, preferia não ir por aí.

Não percas o próximo episódio.

domingo, 18 de setembro de 2011

Se o Granada for campeão, ignorem tudo o que está escrito abaixo

O Barcelona fez o terceiro golo e eu disse para um amigo, que também aprecia desfrutar da paisagem de fim de tarde às portas da Típica, "isto hoje vai aos oito". Esta frase ficou-me na cabeça. Não tanto por ter acertado no resultado final, mas sobretudo por dois motivos: primeiro, pela reacção do meu amigo - nem olhou para mim, aceitou a profecia com uma naturalidade gélida, como se a minha frase fizesse todo o sentido do mundo; segundo, não me parece que fosse difícil adivinhar "aquele" resultado - se não fossem oito, teriam sido nove ou sete ou dez. Em última análise, o que importa é que uma goleada de oito a zero num jogo do campeonato da primeira divisão da segunda melhor liga do mundo que envolva Barcelona ou Real Madrid não só não causa espanto, como é encarado com uma tremenda naturalidade. Tornou-se uma espécie de "faz parte" ou de "pois, estava-se mesmo a ver". E eu vejo as loas e elogios que se tecem aos dois portentos - sobretudo ao Barcelona - e não vejo uma só pessoa a entrar em pânico pelo facto de a liga espanhola se resumir ao resultado do confronto directo entre os dois grandes rivais, apimentado pelo concurso a ver quem faz mais golos (por jornada ou por atacado) e por qual dos dois craques é o melhor do campeonato e, por conseguinte, o melhor jogador do mundo, sabendo-se à partida que se um deles marcar menos de 50 golos no decorrer da temporada, a coisa é capaz de ser vista como um fracasso.

Se em Espanha um campeonato com 20 equipas serve apenas para tirar teimas entre o poderio de duas, não passando as restantes 18 de simples figurantes, em Inglaterra não é muito diferente. Há o United e, depois, mas bastante depois, o irrequieto intruso londrino de Chelsea. Os outros londrinos são uma sombra deles próprios - o Arsenal está desfeito e, de há alguns anos para cá, tornou-se definitivamente na terceira ou quarta força do campeonato. O Liverpool abdicou há 20 anos de lutar pelo campeonato, contentando-se com os quartos lugares que dão acesso à Liga dos Campeões, prova que levavam bastante mais a sério. Entretanto, nem à Champions chegam. O City não passa do mais forte concorrente a Bitch of the Year da próxima jantarada da OPEP. Ou seja, a questão deixou de ser se o United consegue ser campeão. A curiosidade prende-se mais com o grau de dificuldade com que o fará. A avaliar pelo arranque da época, a FA colocou a prova em "very easy".

O caso inglês é muito semelhante ao português. A questão "será que o Benfica consegue ser campeão?" surge-me muito depois da outra, "quando será a primeira vez que o Porto perde pontos?". O nosso campeonato nacional só poderá ter alguma emoção se o Benfica não cometer o mínimo deslize E vencer os portistas em pelo menos um dos confrontos directos. De outro modo, não passam de umas longas e protocolares 30 jornadas para consagrar aquele que já era campeão à partida.

O desequilíbrio começa a tornar-se tão gigantesco e a afigurar-se tão incontornável que o futebol doméstico corre o risco de passar a ser aquele entretenimento de encher chouriços enquanto se espera pela jornada internacional. Qualquer dia, um campeonato nacional terá o mesmo sabor que a vitória no Campeonato de Lisboa tinha na década 30. Estaremos perante uma mudança de paradigma? Se sim, e se for irreversível, aquela ideia elitista da Liga Atlântica começa a fazer algum sentido. Mas valerá sempre a pena tentar perceber que acontecimentos e circunstâncias levaram a este estado de coisas.

Comente você mesmo

Paulo Jorge Santos refere-se, aqui, ao Manchester United - Chelsea de hoje à tarde, da maneira seguinte:

"o duelo entre as equipas que dominam o soccer desde 2004".

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Domingos e domingos de impaciência…

Ultimamente, tenho tido presença assídua no Estádio da Luz. Porém, nem sempre foi assim – e irei falar sobre o assunto, logo que consiga digerir uma passagem absolutamente notável do Fever Pitch de Nick Hornby a propósito do público e do jogo da bola. Esta digestão poderá processar-se, ou não, no decorrer da escrita deste texto. É um dos encantos com que a minha própria escrita me seduz: até a mim surpreende. Traçar um plano narrativo equivale, para mim, a abrir um novo documento em Word. Mas concentremo-nos.

Dizia eu que agora vou muitas vezes à Luz, se compararmos com o que me era normal. Este ano, assisti a três jogos da Europa e a um do campeonato. O ano passado, fui a 15 ou 16 encontros, no total da época. Há uns tempos atrás, era menino para ir meia-dúzia de vezes à Catedral durante um ano inteiro (houve um ano de excepção: na época 2009-2010, não vi um único jogo ao vivo; na primeira metade da época, por circunstâncias pessoais; na segunda, para não estragar uma coisa que estava a correr tão bem – assim, abstendo-me de azarar a equipa, fiz com que o Benfica fosse campeão. Não precisam de agradecer, o título é recompensa suficiente).

Isto de ir ver os jogos europeus é muito giro e muito bom, mas deixa-me uma sensação de que estou a perder algo. Surpreendido por esta impressão inesperada, mesmo após a exibição e o ambiente com o United, indaguei: de onde vens tu, ó ingrata impressão? Só no dia seguinte, ao ver os telejornais, é que cheguei a uma conclusão – não menos surpreendente do que a sensação em si.

Quando eu não ia tantas vezes ao Estádio, via os jogos, quase sem excepção, na Gelataria Típica de Alfama que, ao contrário do que o nome pode sugerir, de gelataria tem a arca da Camy e de típico tem o facto de ser uma tasca do mais charmoso que se pode encontrar, num registo simples e sóbrio (até ao intervalo dos jogos; depois disso, a coisa muda e o adjectivo deixa de poder ser usado com propriedade, a não ser que estejamos a fazer planos para o futuro). No entanto, é absolutamente verídico que se situa em Alfama.

Nestas incursões pelo futebol de balcão, havia vários momentos que eu considerava – e ainda hoje considero – sagrados: o entoar do Hino do Benfica, com a voz de Luís Piçarra diluída nas nossas, antes do pontapé de saída; as flash interviews e as conferências de imprensa no final do jogo. Podemos considerar, se formos muito rigorosos, três momentos, separando as flash das conferências. Para mim, no entanto, vai tudo dar ao mesmo. O meu interesse não é em saber que a equipa fez tudo o que estava ao alcance, que o grupo está unido, que o jogador está contente pelo golo mas o que importa é (sic) os três pontos ou que vão continuar a trabalhar, semana após semana, um jogo de cada vez porque, lamentavelmente, o futebol é assim mesmo e há que levantar a cabeça.

O que mais me importava nos momentos em que os protagonistas se acercavam de câmaras e microfones era mesmo ouvir Jorge Jesus. Jorge Jesus criou todo um novo e admirável léxico dentro do já de si riquíssimo e exótico mundo das palavras futebólicas. Eu ouvi Jesus dizer que viu um lance “nídito”. Isto, já depois de nos ter levado longe na “óroliga”, após termos sido eliminados da “champiõs liga”. Uma resposta de Jorge Jesus, a qualquer que seja a questão, é uma chapada de luva branca a quem perde tempo a discutir se o acordo ortográfico é bom ou é mau: para Jesus, simplesmente não se aplica. A língua muda, o povo escreve e fala diferente. Jesus nem dá por ela – nunca deu.

E eis que é isto que perco enquanto como uma bifana e bebo uma imperial naquele intervalo entre a Ti Rosa e o Manelito. Onde está o meu bom Jesus a encantar-me com suas palavras, tal como os seus discípulos me encantam com os seus passes, as suas fintas e os seus golos? No Estádio há a vantagem de o ver esbracejar e saltar e berrar como alguém que atravessa uma profunda crise de nervos e não se consegue fazer entender porque os jogadores não o ouvem – ou ouvem mas não lhe ligam. Percebe-se: nenhum é português. Porém, não estou seguro de que os jogadores o compreendessem melhor se o sangue que lhes corre nas veias fosse milenarmente lusitano.

Este ano, e apesar de me ter saciado com jogos internacionais frente a Trabzonspor, Twente e Manchester United, não saboreei aquele momento de clímax em que Jesus pronunciou, com a segurança de um Cardozo a bater um livre descaído sobre a direita, “tranzá-espór”, “twenty” – num claro revivalismo futriano – e “náite, máster náite”. Não é perda pouca. Gosto muito de assistir ao vivo à agitação do mister. Mas gostava de estar mais perto, porque não consigo ouvir o que diz. E gostava, sobretudo, de o ouvir discorrer sobre… enfim, sobre assuntos. Em geral. Gostava que a Judite de Sousa ainda estivesse na RTP1 e que Jorge Jesus conseguisse fazer do Benfica campeão europeu só – atentem: SÓ! – para poder ter o prazer de assistir a uma Grande Entrevista com o nosso treinador.

Perdidos, irremediavelmente perdidos, estes momentos de antologia, vejo-me a ficar impaciente pelo primeiro jogo entre Benfica e Sporting. Não é habitual em mim. Tendo, por norma, a desejar que este jogo não chegue – dá-me angústias, dá-me ansiedades, perco o apetite, tenho sonhos maus, fico confuso e stressado. Mas este ano dou comigo em pulgas. E o Benfica até pode ganhar só por quatro ou cinco a um, mas com uma condição: o golo do Sporting tem de ser apontado por Van Wolfswinkel. Só isso. E depois, venha a conferência de imprensa.

Aquela língua suja...

Há, no mundo da bola, personagens que se distinguem pela coerência. Existem outras que se distinguem pela estupidez. Mas apenas uma elite consegue a sua distinção por ser coerentemente estúpida. José António Saraiva é um clássico de cada vez que abordo este tema e, por isso, hoje poupá-lo-ei. A não ser que mude de ideias enquanto escrevo o texto. Há quem fale de Rui Santos quando a temática é esta, mas estou em crer que tal se deve mais a questões de tradição e de hábito do que a conhecimento de causa (sinceramente: quem é que ainda lê o Rui Santos?). Sinto muitas saudades de José António Lima, esse pequeno verme acobardado, habitante de um exíguo enclave algures entre o pretensiosismo intelectual e a profunda ignorância - tanto do futebol quanto das letras. Olímpio Bento, por seu lado e com as suas tenebrosas analogias, deixa perceber facilmente que é de outro campeonato e não deverá ser avaliado segundo parâmetros do mundo civilizado. Miguel Sousa Tavares, quando sóbrio, é uma grande desilusão. Tornou-se simplesmente desinteressante. Resta-nos quem? O leitor mais atento e perspicaz já terá adivinhado. Quantos portistas boçais (descontando o próprio presidente, que, como se sabe, é um prodígio da “fina ironia” e da “bicada ao rival”) conseguem escrever isto [nota: as vírgulas estão transcritas segundo a pontuação do autor]: “mais um capítulo ridículo, de branqueamento despudorado, ao melhor estilo da velha senhora”; “o andor benfiquista voltou e em força”; “o Benfica vai colhendo frutos das benesses das arbitragens”.

Repito: é um portista. Eu toleraria esta revolta, ainda que enganada, a um sportinguista – diga-se a verdade: este ano, o Sporting já foi prejudicado várias vezes. Não me é difícil compreender que um adepto do Sporting se sinta discriminado quando a favor do Benfica se assinalam, no mesmo jogo, três grandes penalidades (sendo que uma, ainda por cima, não existe), enquanto que o seu clube já foi privado de dois golos limpos, entre outras injustiças menores.

Qualquer adepto que não seja muito imbecil conseguirá admitir, apesar de se lhe revoltarem entranhas, que o árbitro esteve bem ao assinalar os dois primeiros penalties e que esteve mal ao assinalar o terceiro (e ao não assinalar um anterior, por mão de Alex a cortar cruzamento de Emerson). Não custa muito, basta olhar para as imagens e ser objectivo. Mas eu nem quero isso – na minha humilde opinião, a vossa opinião importa-me muito pouco, só para ser simpático. O que eu gostava era que o (reparem no desprezo no “o”) - dizia eu que gostava que o Rui Moreira tivesse um pouco mais de vergonha na cara. Mas também não quero pedir o impossível: se não é capaz, que se deixe estar. Cada um vive com o que tem.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Citando Hornby



«Aprendi algumas coisas com o futebol. (...) Aprendi o valor de investir tempo e emoção em coisas que não posso controlar e de pertencer a uma comunidade cujas aspirações partilho de maneira completa e acrítica.»

O irredutível galês

Há certos privilégios que são ainda mais raros do que o “privilégio” regular – já de si disponível apenas a uma elite. Por exemplo: eu já tive o privilégio de ver Ryan Giggs jogar ao vivo. Por duas vezes. A última das quais, jogou em simultâneo e na equipa oposta à de Pablo Aimar. Isto, sim, é um privilégio à séria. É um momento raro.

Há jogadores muito bons, que jogam muito bem, que incendeiam plateias, fazem explodir euforias, levam pessoas ao delírio. E depois há aqueles a que gosto de chamar “masters” – o termo “mestre” não tem a carga de “poder” que a palavra inglesa carrega.

Ser master não é só “jogar muito”. Por exemplo, Cristiano Ronaldo não é um master. É um craque – um super-craque (e bonito e milionário). Mas master é o Messi. O master pensa com agilidade, corre com imaginação, executa com felicidade e sem esforço e faz o jogo depender de si – porque tem esse poder, porque é superior. Não apenas futebolisticamente. Não. É em absoluto superior. Rooney nunca será um master, por melhor jogador que seja. “O” master foi Zidane, provavelmente o maior e mais potente que vi jogar (falamos desta estirpe; continuo a preferir, enquanto jogador, Ronalducho Nazário e Diego Maradona).

Ontem, entre quase 64 mil pessoas, num ambiente inexplicável – nem me vou dar ao trabalho de tentar -, vi no mesmo relvado dois dos raros masters da actualidade. Pablito, o nosso enorme Aimar. E Giggs, um britânico com um tremendo azar geográfico que o destino quis ver confinado a uma das mais pobres selecções da Europa, hoje em dia. Ver Giggs retirar-se da selecção do País de Gales em 2007 provocou-me aproximadamente a mesma sensação que assistir à despedida de Henry do Arsenal. Acabava ali uma era - sem a glória merecida. Mas com muita honra. E é também isso que distingue masters de craques. É esse prolongamento dos pés e da cabeça até ao coração e ao carácter (não estou a pensar em episódios da vida familiar, conjugal ou extra-conjugal, claro; falo apenas de personalidade).

Ontem vi-me deliciado perante a inteligência, a elegância, o toque, a suavidade, a importância daquele senhor dentro do campo. É uma maravilha. À beira dos 38 anos, trocou a sua personalidade de craque dos extremos pela bênção de quem sabe o que faz e o que quer fazer no centro do terreno. Só pela honra que é vê-lo vale a pena ir a um estádio.

PS - Um amigo alertou-me para a tremenda falha deste post: Dennis Bergkamp. Obviamente, Bergkamp é um dos expoentes máximos do ser master. Por estas e por outras é que não tenho como escapar ao Arsenal. Mesmo quando se leva oito do Náite.

Hoje os posts saem ao parágrafo

Vou começar pelo fim, pela discussão que menos importa e que, normalmente, só ocupa a mente e as discussões dos adeptos de equipas que não estão em jogo. Fóruns e blogues, twittéres e facebooks, um pouco por todo o lado se lêem vozes de quem está de fora e não racha lenha. “They didn’t even play with Nolito in the eleven, you fucks”, “What?! Who the fuck is that Brazilian, man? What about Capdevilla?”, “I can’t believe Saviola wasn’t even in the pitch… these guys must be kidding”, “Well, this Jesus guy makes me laugh… Is this for real? Rubem Amorim? Who is he? Is he a real footballer?”… Podia continuar. Aparentemente, os adeptos do Liverpool e do Arsenal, e sobretudo do Chelsea e do City não gostaram de ver Jorge Jesus escolher uma equipa para o jogo de ontem já a pensar no jogo com a Académica. Eu próprio fiquei um pouco surpreendido. Mas não vejo a coisa como uma “falta de consideração” ou um “subestimar o adversário”. Apesar das opções B, Jesus estruturou bem a equipa, que fez um bom jogo e só não ficou com os 3 pontos porque teve algum azar. Oportunidades não faltaram. Essas más línguas são apenas manifestações da azia dos adversários que provavelmente esperavam que o Benfica humilhasse historicamente o United…

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Confiança, rapazes

Um amigo meu, sportinguista, perguntava-me ontem “então, estás com medo, para amanhã?” e eu “não, pá”. Ficou surpreendido. “Como não? É o Manchester!” “O importante é não sobrestimá-los”. Depois fiz aquela expressão assim confiante e sábia, cerrando suavemente os olhos, esticando de modo ligeiro os lábios bem fechados. Calou-se.

Eles fizeram 18 golos em quatro jogos do campeonato. Inclusivamente, marcaram oito ao Arsenal - o Arsenal seria a minha equipa se um cataclismo apocalíptico varresse o Benfica da face da Terra e se, chegado esse inimaginável dia, o Desportivo de Mafra, o Grande Dépor, não tivesse ainda chegado à primeira liga. 18 golos em quatro jogos… é susceptível de causar alguma apreensão. Mas também não exageremos. Podem ter tido sorte.

Eles têm pontos fracos. Têm de ter. Eu não queria fazer uma abordagem xenófoba do assunto, mas... há que considerar, por exemplo, que eles têm um português. Vantagem nossa logo aí.
Não podemos ter medo deles. Não quando em Lisboa há manchesterianos bêbados desde ontem de manhã. Não sei se eles já nascem neste estado ou se simplesmente a Sagres lhes cai mal - não é para meninos. Certo é que cambaleiam como se não houvesse amanhã (que seria hoje, no caso dos que estão neste estado desde ontem). Grupos de dez e de quinze homenzarrões muito brancos e volumosos caminhando incertos pela cidade que maldosamente não pára de se mexer...

Financeiramente falando, eles têm mais receitas sozinhos do que toda a liga portuguesa junta. Ou seja, eles podiam ter o Aimar, se quisessem. Ou o Cardozo. Ou até o Witsel. Ou o Javi. Ou o Maxi. Ou o Nolito, ou o Luisão, ou o Artur, ou o Emerson, ou o Gaitán ou o Garay. Ou todos. Mas não! Em vez disso, têm aqueles gajos. Têm muito dinheiro mas percebem pouco de bola.

Pela minha parte, fiz o que sempre faço: enervar cosmicamente o adversário. Assim, esta semana cumpri uma série de pequenos rituais especialmente dolorosos para o United. Sair à noite? Só para o Liverpool. Comer e beber? Só na Rua do Arsenal. Ir ao Shopping? Só ao City. Há que desmoralizá-los.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Não pensou bem...

Noticia A Bola, à página 12 da edição de hoje, que o meu mui estimado Gabriel, o Pensador, aproveitou a estadia em Portugal para visitar o Estádio de Alvalade - onde assistiu ao Sporting - Marítimo (2-3) - e a Academia leonina. Que fique registado que Gabriel é brasileiro e acabou por tornar-se rapper. Não percebe de futebol, portanto.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

É que há maneiras e maneiras..

Em dois blogues que muito aprecio e frequento com regularidade, deparei-me com textos de polos completamente opostos.

No primeiro, critica-se duramente a política de aquisições do Benfica - isto, numa sequência já longa de críticas deste blogue a quem dirige o clube.

No segundo, elogia-se o planeamento e a construção da equipa para a época que ainda agora começou.

É extraordinário, antes de mais, concluir que os autores estão a referir-se ao mesmo clube, dirigido pelas mesmíssimas pessoas. Mais extraordinário é constatar que se tratam ambos de adeptos fervorosos do Grande Clube que é o meu. Mas notável mesmo à séria é saber que ambos os textos contêm verdades impolutas. Tudo depende agora da maneira como olhamos para elas e queremos interpretá-las.

Para ambos e para os poucos que me lêem, aqui deixo os meus 5 cêntimos, correndo o risco de vos dar aquilo que não vos interessa nem um bocadinho: não sou nem nunca fui partidário de Vieira - sempre mantive espírito crítico relativamente ao presidente da Instituição (e manterei, com ele ou com qualquer outro); não sou de presidentes - nem de treinadores, nem de capitães de equipa, nem de outros jogadores, já agora. Sou do Benfica e isso me envaidece. Mas, pesando factos e argumentos, desta vez - e isto sem qualquer prognóstico, constatando apenas a realidade presente - estou com a direcção do Benfica. A ela, ao presidente, ao Rui Costa e a Jorge Jesus, os meus parabéns. Vocês estiveram bem.